Candidata cega luta contra o preconceito
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Egípcios
elegem os deputados num escrutínio que vai até Janeiro para consolidar as bases
da democracia multipartidária
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Egípcios elegem os deputados num escrutínio que vai até
Janeiro para consolidar as bases da democracia multipartidária
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Fotografia:
AFP
Pela
primeira vez na história do Egipto, uma mulher cega de nascença é candidata a
deputada nas eleições legislativas do país, com a esperança de acabar com a
marginalização dos portadores de deficiência na sociedade.
Tagrid
al Manharaui, de 29 anos, é professora de inglês num colégio de cegas e
representa o partido moderado islamita Al Wasat, por um distrito da província
de Beni Suef, 120 quilometros a sul do Cairo.
A
sua candidatura abre as portas para que cegos e outros portadores de
deficiência tenham maior integração numa sociedade que os manteve
tradicionalmente no esquecimento.
“O
que me move é a luta contra a marginalização por parte do regime anterior de
todas as camadas sociais, especialmente os deficientes”, explicou Tagrid al
Manharaui, em entrevista à agência Efe.
A
jovem filiou-se ao partido Al Wasat em
Setembro, porque o partido foi formado sob os princípios de “igualdade de
oportunidade e não discriminação”.
O
Wasat, que obteve na primeira volta das eleições 4,3% dos votos, propôs a
Tagrid al Manharaui um lugar nas listas
de deputados pelo seu destacado trabalho social nos últimos anos.
O
antigo Partido Nacional Democrático, do ex-presidente Hosni Mubarak, também lhe
ofereceu a possibilidade de representar a formação política.
“Rejeitei
totalmente a oferta porque discordava intelectualmente deste partido e em todas
as suas políticas”, realçou a candidata do Al Wasat, assegurando que agora
representa também a luta contra “a grande corrupção”.
Para
Tagrid al Manharaui, a sua candidatura nestas eleições representa uma mensagem
para todas as pessoas deficientes, às quais aconselha a não desanimarem, pois a
sua condição “não é um defeito”.
“Se
for eleita no Parlamento, isso vai encorajar todos os deficientes a praticar
plenamente os seus direitos para serem integrados na sociedade”, afirmou.
Dessa
forma, a professora espera que os eleitores colaborem com ela “como um ser
humano que tem todos os direitos e deveres, sem levar em conta a sua condição”.
Apesar
do apoio limitado que o seu partido - uma antiga cisão da Irmandade Muçulmana -
obteve até agora, Tagrid al Manharaui mostrou-se optimista quanto à
possibilidade de conseguir um lugar, pois a sua campanha teve “um grande apoio
das pessoas”.
O
seu programa político inclui a promoção de emendas à Constituição para acabar
com os poderes absolutos que ostentava o Presidente da República e para que o
Parlamento tenha o direito de lhe pedir contas dos seus actos.
Outro
dos seus objetivos é impulsionar reformas na agricultura, saúde e educação,
porque, na sua opinião, “as políticas do antigo regime nessas áreas foram um
fracasso”. A candidata declarou que a sua prioridade vai para as classes baixa e
média, assim como os deficientes, pois pretende trabalhar para aumentar as suas
oportunidades de trabalho e de reabilitação.
Tagrid
Manharaui confia nas capacidades desta parte da sociedade e nas dela mesma,
para representar “muito bem” todos os egípcios.
“Claro
que posso”, garantiu de forma contundente a jovem cega, lembrando que o seu
trabalho social ajudou-a a ganhar experiência em atividades similares ao
trabalho político. A candidata aspira trabalhar por todo o país, mas não
esconde a inclinação para continuar a
luta em defesa de certos grupos. “A época de subestimar os incapacitados
acabou”, concluiu.
Fonte: Jornal de Angola
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