Falta de cuidadores para alunos com deficiência preocupa famílias em SP
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Médica de menino que morreu, após cair da cadeira
de rodas no pátio da escola, acredita que a falta de um cuidador pode ter
influenciado.
Um
problema que atinge a maioria das escolas públicas brasileiras: faltam
cuidadores para alunos com deficiência. Em São Paulo, um menino morreu depois
de cair de uma cadeira de rodas. Ele estava sem cuidador.
O
Fantástico mostra a última imagem de Sammer, quando saía para a aula. Ele
morreu no dia seguinte, depois de uma queda na escola. O irmãozinho, de 3 anos,
ainda não entende.
“Aos
poucos a gente começou a falar com ele, que o irmão não ia voltar mais, que virou
uma estrelinha, que está com o Papai do Céu”, conta Silmara de Cassia Gomes
Fernandes, mãe do Sammer.
O menino sorridente, de 11 anos, sofria de um tipo de distrofia muscular. Há um ano, começou a usar cadeira de rodas. Mas fazia questão de frequentar a escola.
O menino sorridente, de 11 anos, sofria de um tipo de distrofia muscular. Há um ano, começou a usar cadeira de rodas. Mas fazia questão de frequentar a escola.
“O
sonho dele era conseguir continuar estudando e ser um cientista pra no futuro
conseguir a cura da doença dele”, diz Silmara de Cassia Gomes Fernandes, mãe do
Sammer.
José Carlos vivia em função do filho. Construiu sozinho uma rampa para subir e descer com a cadeira de rodas. Em 23 de agosto, foi ele quem recebeu a notícia.
José Carlos vivia em função do filho. Construiu sozinho uma rampa para subir e descer com a cadeira de rodas. Em 23 de agosto, foi ele quem recebeu a notícia.
“Quando
eu cheguei, eu encontrei meu filho caído no chão, na parte de fora da escola”,
relembra o pai do Sammer.
Sammer
estava brincando no pátio da escola com os coleguinhas. Quando ele foi
retornar, a cadeira de rodas bateu em um pequeno degrau. O Sammer tombou e foi
para o chão, onde ficou por uma hora esperando o resgate. Foi para o hospital,
de onde só saiu morto.
A
causa da morte: tromboembolismo, que é quando coágulos de sangue se
desprenderam das pernas e vão parar no pulmão.
Maria
Bernardete Resende, médica do Sammer, acredita que a queda pode ter sido o
fator de precipitação do tromboembolismo. “Pela evolução da doença, não era pra
a criança falecer nessa faixa etária”, diz a médica.
Sem cuidador no dia do acidente, Sammer brincava na escola com o melhor amigo, Jonathan. “Aí a cadeira enroscou, aí ele foi pra frente, e ele caiu”, conta Jonathan Santos Silva.
Sem cuidador no dia do acidente, Sammer brincava na escola com o melhor amigo, Jonathan. “Aí a cadeira enroscou, aí ele foi pra frente, e ele caiu”, conta Jonathan Santos Silva.
Durante
o mês de junho, Sammer chegou a ter ajuda de uma cuidadora, contratada por uma
empresa que prestava serviço à escola estadual. O Fantástico conversou com ela,
que preferiu não se identificar.
A cuidadora disse que não houve treinamento na empresa terceirizada. “Eu fui contratada dia 03 de junho, por telefone”, acrescenta a cuidadora.
No início do semestre, a cuidadora desistiu do emprego e avisou a família e a empresa.
A cuidadora disse que não houve treinamento na empresa terceirizada. “Eu fui contratada dia 03 de junho, por telefone”, acrescenta a cuidadora.
No início do semestre, a cuidadora desistiu do emprego e avisou a família e a empresa.
O
pai afirma que, mesmo assim, o diretor da escola disse que Sammer poderia
continuar frequentando as aulas, porque alguém cuidaria dele.
“Mesmo com a reclamação do pai, a escola se compromete com um inspetor de alunos, com uma pessoa não especializada”, diz Renata Tibyriçá, defensora pública.
“Mesmo com a reclamação do pai, a escola se compromete com um inspetor de alunos, com uma pessoa não especializada”, diz Renata Tibyriçá, defensora pública.
Cuidador
é o profissional capacitado para atender ao aluno com deficiência que dependa
de ajuda para atividades como ir ao banheiro, tomar remédio, locomover-se ou
comer.
O
atendimento é garantido pela Constituição. Até março deste ano, não existiam
cuidadores nas escolas estaduais de São Paulo. Por isso, naquele mês, o
Ministério Público fez um acordo com o governo.
“O Estado de São Paulo se comprometeu a garantir a presença desse profissional, o cuidador, com a contratação progressiva ao longo de 2013 e a partir de 2014 a garantia desse profissional em todas as escolas onde haja algum aluno que necessite desse apoio”, explica João Paulo Faustinoli e Silva, promotor de justiça.
“O Estado de São Paulo se comprometeu a garantir a presença desse profissional, o cuidador, com a contratação progressiva ao longo de 2013 e a partir de 2014 a garantia desse profissional em todas as escolas onde haja algum aluno que necessite desse apoio”, explica João Paulo Faustinoli e Silva, promotor de justiça.
A
subsecretária de articulação da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo,
Rosania Moralles Morroni, afirma que o Estado vai cumprir a meta.
“Plenamente. Até antes do prazo estipulado, nós atendemos toda essa demanda”, afirma.
“Plenamente. Até antes do prazo estipulado, nós atendemos toda essa demanda”, afirma.
Fantástico:
Não há então crianças que precisem de cuidadores e não estão conseguindo?
Secretária do estado de Educação: Não, não há! No Estado, não. Nós atendemos toda a demanda.
Secretária do estado de Educação: Não, não há! No Estado, não. Nós atendemos toda a demanda.
Mas,
na Defensoria Pública do Estado de São Paulo, existem mais de 100 pedidos de
famílias que esperam cuidadores para os filhos, tanto em escolas do estado,
como do município.
“Começa um jogo de empurra de que eu município não tenho condições e eu estado não tenho condições. De quem que é afinal a responsabilidade? A responsabilidade é de ambos”, explica a defensora pública Renata Tibiriçá.
“Começa um jogo de empurra de que eu município não tenho condições e eu estado não tenho condições. De quem que é afinal a responsabilidade? A responsabilidade é de ambos”, explica a defensora pública Renata Tibiriçá.
O
Fantástico visitou três famílias que solicitam cuidador.
André Ferreira Sales, de 8 anos, tem Síndrome de Down. Sem cuidador, não consegue frequentar a Escola Estadual Cronista Rubem Braga.
André Ferreira Sales, de 8 anos, tem Síndrome de Down. Sem cuidador, não consegue frequentar a Escola Estadual Cronista Rubem Braga.
Moises
de Oliveira Souza, de 9 anos, também com Síndrome de Down, estuda no Colégio
Santa Rosa de Lima, mas não tem cuidador.
Em
nota, a Secretaria Estadual de Educação diz que "Está reavaliando os dois
alunos com Síndrome de Down referidos pelo Fantástico".
Outro
caso é o de Suellen, 7 anos, que tem paralisia cerebral. Ela começou o ano na
primeira série de uma escola estadual, onde não havia cuidador. A mãe pediu
transferência. Em agosto, Suellen foi transferida para o Colégio Municipal
Ulisses Guimarães, a oito quilômetros de casa.
A
escola prometeu um cuidador para o início de setembro. Mas até agora nada.
O Fantástico acompanhou a Suellen e a mãe até o órgão da prefeitura que cuida da inclusão de alunos com deficiência. São 25 quilômetros da casa da família, em Engenheiro Marsilac, até Veleiros, na periferia da Zona Sul paulistana. Cansada, Suellen vai na cadeira de rodas até o ponto.
Fantástico: Você já pediu várias vezes o cuidador e eles dizem que tá chegando?
Lucilene, mãe de Suelen: Tá chegando. Mas nunca chega.
O produtor do Fantástico registrou tudo com uma microcâmera.
O Fantástico acompanhou a Suellen e a mãe até o órgão da prefeitura que cuida da inclusão de alunos com deficiência. São 25 quilômetros da casa da família, em Engenheiro Marsilac, até Veleiros, na periferia da Zona Sul paulistana. Cansada, Suellen vai na cadeira de rodas até o ponto.
Fantástico: Você já pediu várias vezes o cuidador e eles dizem que tá chegando?
Lucilene, mãe de Suelen: Tá chegando. Mas nunca chega.
O produtor do Fantástico registrou tudo com uma microcâmera.
Lucilene:
Eu queria ver em que pé que tá o andamento do papel que ela mandou enviar pra
AVE.
Atendente:
Eu não sei, só com ela, teria que ligar.
Fantástico:
E tem previsão de quando vai ter?
Atendente:
Não, não tem.
AVE
significa auxiliar de vida escolar. Nas escolas municipais, é sinônimo de
cuidador.
Uma
semana depois, a equipe do Fantástico voltou com a Lucilene.
Fantástico:
A gente veio saber se resolveram o problema do cuidador da Suellen.
Segurança: Não pode entrar com a câmera.
Segurança: Não pode entrar com a câmera.
Gravação
do áudio: Cristiane, nós estamos aqui com um pequeno problema. E eu estou com
uma mãe com uma criança que foi pedido para que mandasse para escola uma AVE
porque a menina é dependente fisicamente e a Rede Globo está acompanhando.
Fantástico: Tiveram alguma resposta?
Fantástico: Tiveram alguma resposta?
Lucilene:
Por causa da distância da casa pra escola, ela vai tentar ver se consegue
colocar no CEU Parelheiros.
Em
nota, a Secretaria Municipal de Educação afirma que está "providenciando a
matrícula de Suellen para a unidade mais perto de sua residência na semana que
vem". E que lá "a aluna também terá direito a um auxiliar de vida
escolar".
Já
o caso de Sammer, que morreu ao cair no pátio da escola, sem a supervisão de um
cuidador, ainda está sendo investigado. A família espera respostas.
“Não há nada que retire a responsabilidade da escola nesse caso. A fatalidade, não é fatalidade, é uma responsabilidade por parte deles”, explica a defensora pública Renata Tibiriçá.
“Não há nada que retire a responsabilidade da escola nesse caso. A fatalidade, não é fatalidade, é uma responsabilidade por parte deles”, explica a defensora pública Renata Tibiriçá.
“Por
mais que falem dessa inclusão, é uma inclusão que não inclui ninguém”, desabafa
a mãe do Sammer, Silmara de Cassia Gomes Fernandes.
Fonte: G1 - Fantástico
Todo cuidado ainda é pouco, a final esses pequeninos são o futuro da nação.
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