Inclusão: como a escola pública recebe os portadores de autismo
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Por Douglas Saviato Engeplus
As dificuldades em
identificar o autismo trazem prejuízos ao desenvolvimento educacional da
criança. No início de 2013, Felipe com 7 anos foi matriculado na Escola de
Educação Básica Jacinto Machado, porém, por ser agressivo e por chorar muito,
não conseguiu continuar frequentando as aulas. Foi quando a professora da
turma, Emiliane Borges, que já desconfiava que o menino poderia ter autismo,
conversou com a mãe e constatou que ele nunca havia se consultado com
especialistas. “Ele havia se consultado somente com pediatra e com médicos
locais. Sugeri então um psiquiatra infantil, a mãe o levou e, após exames e
muitas conversas, o autismo foi diagnosticado. O médico prescreveu a medicação
adequada, e a melhora foi muito rápida”, explica.
Após o
diagnóstico, o menino passou a frequentar o Serviço de Atendimento Educacional
Especializado em Transtornos Globais do Desenvolvimento (Saede), na própria
escola. Felipe frequenta o programa duas vezes por semana, com uma hora e meia
de atendimento. “Na sala de aula com outros alunos, ele não conseguia se
habituar ao barulho, tinha que ficar com a mãe presente. Comigo ele fica
sozinho, é educado, já conhece todo o alfabeto, escreve seu nome, os números
até 15 e é fera em computador. Além disso, adora gibis e livros”, conta a
professora orgulhosa.
No Saede, o menino faz todas as atividades, é extremamente inteligente, porém, apresenta dificuldades na fala e na coordenação motora, pois nunca tinha frequentado nenhum ambiente escolar. Emiliane ainda informa que o psiquiatra indicou que a mãe deixasse o menino decidir quanto tempo queria passar na escola, para não forçá-lo.
Despreparo é principal barreira enfrentada pelos professores – Para a professora, o grande agravante da inclusão das crianças com transtornos de desenvolvimento é a não preparação dos profissionais. “O governo não disponibiliza aperfeiçoamentos nessa área e os professores não tem conhecimento de muitas das deficiências encontradas na escola. Nós do Saede é quem fazemos esse tipo de trabalho, fazendo reuniões para explicar as várias deficiências encontradas em nossa escola e sociedade, tirando as dúvidas dos professores, prestando assessorias”, informa.
Além disso, Emiliane ainda explica que avaliação do menino é descritiva, por isso, ele não pode reprovar, mesmo não tendo a porcentagem de frequência exigida. “Por estar no primeiro ano, as atividades são lúdicas, não havendo notas”, destaca. Como melhoria, ela acredita que o governo deve investir na qualificação dos profissionais. “A cada dia o ensino regular recebe alunos com várias síndromes, deixando o professor angustiado por não saber como lidar com essas situações. Há muitos pontos a serem melhorados, caminhamos em passos lentos, mas, caminhamos. Em nossa escola a inclusão ainda causa medo, mas ela está acontecendo e melhorando a cada ano”, ressalta.
Para a professora, o trabalho com Felipe está sendo uma experiência única. “Ler sobre o assunto é uma coisa, vivenciar é outra totalmente diferente e gratificante. Quando olho pro menino ali comigo, conversando, passeando pela escola, participando das atividades extraescolares fico muito feliz e realizada, pois sei que tem um pouquinho de mim, do meu conhecimento, da minha ajuda prestada a família”. Para ela, o sorriso da mãe quando leva Felipe de uniforme para o Saede, confirma a sua importância no processo de aprendizagem e só faz aumentar o amor pela profissão.
Felipe – nome fictício usado para preservar a identidade da criança.
Colaboração: Tânia
Giusti
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