Crianças com deficiência intelectual se desenvolvem melhor quando têm irmãos

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   Ter um filho com deficiência intelectual não é fácil e com certeza o trabalho aumenta quando a família tem outras crianças dentro de casa. Mas as psicólogas que trabalham na Apae de São Paulo garantem: ter um irmãozinho ou irmãzinha pode fazer toda a diferença na qualidade de vida de uma criança deficiente. É por isso que a entidade já realizou em 2008 um encontro nacional de irmãos de pessoas com problemas de deficiência intelectual – o primeiro do tipo.
   “O [irmão] que não tem a deficiência evolui muito mais rápido, isso é natural”, explicou ao G1 a psicóloga Marilena Ardore, co-autora do livro "Tenho um irmão deficiente, vamos conversar sobre isto?”, ao lado de Vera Hofman e Mina Regen. “Com isso, ele acaba servindo de modelo para o irmão com deficiência imitar. A gente vê que tem deficientes que têm irmãos e eles se desenvolvem muito mais rápido, pelo modelo. Os irmãos ajudam muito”, afirma.
   A colega Parizete Freire concorda. “Uma criança deficiente com dois anos e meio, quase três anos, que não está andando, com um irmão de um ano e meio, que não tem a deficiência, acaba copiando, sendo estimulada pelo irmão”, afirma. “É um modelo de estímulo”, diz Ardore. “O irmão menor pega direito no garfo e ele quer imitar”, exemplifica.

Dificuldades
   É claro que isso depende de um bom relacionamento entre os irmãos, o que não é tão fácil. A proximidade precisa ser construída desde cedo e requer muito jogo de cintura dos pais. “Para a criança pequena, normalmente, esse irmãozinho acha que a mãe gosta mais do irmão deficiente. Porque ela sai de casa, se arruma, pega a bolsa e vai ‘passear’. Ele ainda não tem condições internas de entender que esse é um tratamento que o irmão precisa”, explica Parizete Freitas.
   Para isso, a Apae oferece um programa de apoio não apenas para as crianças com deficiência, mas para seus irmãos e irmãs também. “Nós chamamos os pais, conversamos sobre a importância de eles estarem orientados em relação ao irmão. Para que ele não seja deixado de lado, mas se torne um aliado, que caminhe junto”, conta Freitas.
   “A gente trata isso de uma forma muito lúdica. Primeiro vemos o que a criança sabe do irmão, para esclarecer ou complementar. Elas entram na sala de atendimento, exploram o material, a sala da fonoaudióloga, da fisioterapeuta, da psicóloga. Para entenderem o que o irmãozinho vem fazer aqui”, diz ela.

Opção
   O irmão pode ajudar, mas a ênfase é no “pode”. “O papel desse irmão não deve vir associado a uma sobrecarga, a uma predeterminação de que esse é o papel dele, de que ele é responsável por isso e que assim será e será eterno”, afirma Ardore. “É trazer para o outro uma carga muito grande de um papel que não é dele. Ele é apenas irmão, não é pai e mãe”, explica a psicóloga.
  “A coisa deve acontecer por si só. Essa iniciativa de levar o deficiente para sair junto, para viajar, e coisas do tipo deve vir do próprio irmão”, afirma ela. “Isso tem que vir espontâneo, porque, a tendência é que, conforme o tempo passe e os pais envelheçam, o irmão vá tomar conta do deficiente”, afirma. “Muitas vezes os pais se surpreendem, em uma família com vários filhos, que justamente aquele que eles jamais eles imaginavam diz que vai cuidar do irmão deficiente”, conta Ardore.
   “É preciso respeitar. A gente vê muitos irmãos e irmãs que deixam a própria vida de lado por sentirem uma obrigação de ter que cuidar do irmão deficiente. Temos gente aqui no grupo de apoio que diz ‘ah, eu nem me preocupo em namorar, porque não vou poder casar, eu tenho que cuidar do meu irmão’”, conta Freire. “Têm mães que simplesmente delegam a função de cuidar do filho deficiente para uma filha mais velha. E a criança com deficiência precisa da irmã, mas precisa muito mais da mãe”, acrescenta Ardore.
   “Quanto melhor orientados a família e esse irmão, melhores serão as condições de cumplicidade na adolescência e vida adulta”, diz Freire.

Caminho contrário
  Mas se é verdade que o irmão não-deficiente pode melhorar muito a vida do irmão com esse tipo de problema, o inverso também é verdadeiro. "Ele amadurece antes, tem uma visão mais humanitária da vida, um senso de responsabilidade maior. Muitas vezes a gente observa até que isso influencia a escolha da carreira. Geralmente, a pessoa acaba optando por uma carreira na área da saúde, como fonoaudiologia, fisioterapia, psicologia”, diz Freire.

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Um comentário:

  1. A alguns anos atrás uma vizinha minha chegou a colocar os 2 filhos, na época o mais novo com 2 anos e o mais velho com 5, para fazer tratamento com fonoaudióloga por causa do mais velho ter um jeito "estranho" de falar e ela tivesse medo do pequeno pegar aqueles vícios. Mas o mais novo não tinha nenhum problema neurológico nem nada, e não estava tendo a aprendizagem da fala tão comprometida como a mãe dele tinha medo que acontecesse.

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