Autistas ganham sistema de tecnologia assistiva
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A
iniciativa é pioneira no Brasil e visa facilitar a comunicação do paciente com
o mundo externo.
Com alguns
toques na tela do celular, o autista monta uma frase, expressando suas emoções
ou vontades, que são imediatamente pronunciadas, em voz alta, pelo aparelho.
Parece até coisa de filme de ficção científica, mas não é. Trata-se do meaVOX -
que significa "Minha voz" -, programa desenvolvido por pesquisadores
da UFF (Universidade Federal Fluminense), do campus Aterrado, como parte do
Adaca (Ambiente Digital de Aprendizagem para Crianças Autistas). A iniciativa é
pioneira no Brasil e visa facilitar a comunicação do paciente com o mundo
externo.
A
coordenadora do projeto, professora Vera Caminha, revelou que as atividades são
financiadas pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico). A docente disse como surgiu o programa, que, vale repetir, é
inédito no país.
"O
meaVOX nasceu a partir do Adaca, quando, no decorrer de nossas pesquisas,
percebemos que poderíamos trabalhar também com algo que se relacionasse à
comunicação dos autistas. Daí, a fonoaudióloga da equipe, Priscila Félix, deu a
ideia de desenvolvermos uma ferramenta semelhante a que já existe nos Estados
Unidos. Então, esse programa surgiu para ajudar a comunicação da criança
autista não-verbal com pais, terapeutas e demais pessoas com quem ela se
relacione", explicou.
Desenvolvimento
O físico
Gustavo Vicente Furtado, professor da UFF (Aterrado), foi o responsável pelo
desenvolvimento do software operacional do meaVOX.
"O
fundamento do meaVOX é uma plataforma open source (código aberto), ou seja, as
ferramentas são livres e podem ser baixadas na internet. O principal mecanismo
é o Java. A ideia é que o programa possa ser utilizado da forma mais fácil
possível, visto que será operado por pessoas não iniciadas em computação. A
ferramenta é composta por duas partes: o celular, que será manuseado pela
criança autista, e o programa que roda no computador. Nele, é feita a
configuração do software", apontou.
Sobre o
funcionamento do aplicativo, o especialista acrescentou mais informações:
"O
programa transforma o celular numa ferramenta de comunicação para a criança
autista. As sentenças montadas pelo paciente são verbalizadas pelo aparelho. No
visor, se localizam figuras que representam ideias, intenções e sentimentos,
entre outros, que podem expressar o que o indivíduo está querendo ou sentindo.
Por exemplo, pressionando o ícone "Eu quero", abrem-se várias opções
de imagens que remetem a possíveis vontades, como brincar, comer, beber, ir a
algum lugar etc. Assim, são articuladas frases pictográficas, que o celular
pronuncia, em voz alta, para que os pais tenham acesso à manifestação do que a
criança está pensando. Gustavo frisou, ainda, que o programa é adaptável ao
nível de aprendizado de cada paciente.
"Existe
a possibilidade de configurar o software de acordo com a necessidade da
criança. O mapa de opções proporciona a alternativa de pressionar apenas
palavras "soltas", que não formam uma frase, mas, não deixam de
expressar sentido. Respostas simples, como "sim", ou termos isolados,
como "casa", são apresentados, levando em consideração as
dificuldades de comunicação do autista", ressaltou.
Auxílio no
tratamento
Para a
fonoaudióloga Priscila Félix, que faz parte da equipe responsável pelo meaVOX,
a iniciativa vai ajudar no tratamento de crianças autistas, visto que, segundo
ela, as pessoas com autismo, em geral, tem afinidades com produtos
tecnológicos.
"A
maioria das crianças com autismo gosta de lidar com computadores, celulares e
outros aparelhos do ramo. Elas costumam ser familiarizadas com joguinhos e
outras atividades, desempenhadas por meio da tecnologia. Esse é um ponto
positivo - disse.
A
profissional destacou os benefícios que o programa vai trazer ao tratamento de
crianças com autismo.
"A
ideia é que o celular esteja sempre por perto, sendo a voz do paciente na
relação com seus pares. Esse sistema apresenta ao indivíduo um modelo
esquematizado de comunicação adequada e isso é uma forma de aprimorar a
expressão que a pessoa já desenvolve, além de facilitar o convívio com os
outros", fomentou.
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