Correndo atrás da minha CNH – Projeto difícil, longo, mas não impossível!

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Adriana Lage comenta sobre o simulador existente no DETRAN de Belo Horizonte que permite à pessoa com deficiência física testar sua capacidade para dirigir um veículo.
Publicado em: 25 de novembro de 2011 às 10:22.

   Essa semana foi rica em assuntos ligados às pessoas com deficiência. Podemos destacar a excelente performance do Brasil no Parapan e o lançamento do Viver Sem Limites. Como a semana foi bem corrida e estou atolada de tanto serviço, vou deixar para comentar sobre esses assuntos mais tarde. Hoje vou falar sobre um cadinho sobre a obtenção da minha CNH.
   Sempre tive vontade de tirar minha CNH – Carteira Nacional de Habilitação. Trata-se de um sonho ainda bem distante de ser realizado. Mas, de forma alguma, impossível! Como possuo fraqueza muscular e comprometimento motor na vértebra C5, não consigo ganhar força por nada desse mundo. Podem acreditar: não consigo girar o volante do carro utilizando apenas uma das mãos.
   As pessoas com deficiência, em Minas Gerais, devem sempre buscar as informações na Comissão de Exames Especiais, localizada na Rua Bernardo Guimarães, 1468. O site do DETRAN contém todas as orientações. Em 2003, fui ao DETRAN de Belo Horizonte em busca da minha CNH. Lá existe um simulador muito legal. Na época, o atendente me garantiu que eu conseguiria girar o volante e não utilizei o simulador. Fiz os exames previstos, prova de legislação e, com tudo certinho, fiquei na fila de espera da autoescola. Na época, apenas uma autoescola possuía um carro com as adaptações que necessito: direção hidráulica, câmbio automático, freio e acelerador manuais e pomo no volante. Quando fiz minha primeira aula de direção, o instrutor ficou bobo quando não consegui fazer um giro completo no volante. Estava na Avenida dos Andradas, que é toda plana, e não consegui fazer um retorno. Achei legal a postura do instrutor. Ele me orientou fazer fisioterapias e só depois retornar para um novo teste. Dito isso, procurei uma fisioterapeuta e peguei pesado na malhação do braço.
   Nesse meio tempo, consegui uma promoção no banco e passei a trabalhar oito horas por dia. Como a fisioterapia não estava me rendendo mais força nos braços, decidi dar um tempo e continuar apenas com os exercícios em casa. Comecei a nadar em 2007 e retomei minhas atividades com uma fisioterapeuta em maio do ano passado. Sinceramente, sinto que melhorei muito desde que intensifiquei a natação e a fisioterapia. Mas não consigo ganhar força mesmo! Minha neurologista do Sarah me confirmou que a lesão medular que tive matou justamente o pedaço dos neurônios que me permitem ganhar força.
   No final de agosto desse ano, resolvi recomeçar minha busca pela CNH. Para evitar novas frustrações e gasto de dinheiro, antes de fazer exame médico e psicotécnico, procurei a Comissão de Exames Especiais. Fiquei encantada com o atendimento recebido. Estava bem vazio no dia em que fui lá. Esperei os instrutores voltarem do almoço e logo fui ao simulador. Se não me engano, foi uma doação da FIAT para o Governo de Minas há uns anos atrás. O simulador permite à pessoa com deficiência testar como seria dirigir um carro de verdade. Os instrutores foram extremamente simpáticos e educados. Testei o pomo de três pontas e o de duas pontas. Infelizmente, ainda não consigo girar o volante. Já estava indo embora, quando um dos instrutores, ao ver um movimento que fiz conversando – tenho mania de gesticular, ainda mais quando fico ansiosa ou estressada – resolveu fazer novos testes. Ele me disse que nunca viu um caso como o meu. É estranho ser tetraplégica, realizar alguns movimentos com os braços e mãos que são incomuns para pessoas tetra e não conseguir girar o volante. Não vou negar que fiquei triste. Quando os instrutores me disseram para não desanimar e me contaram a história de um deficiente que, desde seus 18 anos correu atrás da CNH e, finalmente, aos 53 anos, conseguiu obtê-la, meus olhos encheram. Quase arrumei um chororô. Os dois ficaram emocionados.
Dessa tentativa, aprendi algumas coisas:
    - No meu caso, só conseguiria dirigir se pudesse utilizar um volante menor ou mais baixo.
    - Outra possibilidade seria dirigir o carro através de um joystick. Essa tecnologia está em uso na Europa, mas, segundo me disseram, ainda não está disponível no Brasil. Podem imaginar o custo disso!
   - Caso Deus queira e um dia consiga dirigir, o DETRAN permite que o cadeirante dirija o veículo em sua própria cadeira de rodas. Dá pra se adaptar, por exemplo, um Doblô ou Kangoo, para que o cadeirante entre pela parte de trás do carro e vá para o lugar do motorista sem sair da sua cadeira de rodas. Só essas adaptações, aqui em BH, saem, no mínimo, por R$ 40.000,00. O custo é alto, mas vale a independência que trará a uma pessoa tetraplégica por exemplo.
    - Recomendo que os mineiros com deficiência mais severa procurem a Comissão Especial de Exames antes de começarem os exames. Vale a pena testar o simulador e ter uma idéia antes de gastar tempo e dinheiro.
   Eu me surpreendi com o atendimento recebido na Comissão de Exames Especiais. Não esperava um atendimento tão humanizado! Eles fizeram questão de me motivar e deixaram as portas abertas para que eu faça novos testes no simulador assim que me sentir apta.
DETRAN MG
Fonte: Rede SACI

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