A calçada nossa de cada dia - Mara Gabrilli
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A Prefeitura de
São Paulo
,
no início deste ano, colocou em vigor a lei nº 15.442, que triplica o valor da
multa para quem não mantém o passeio público em ordem ou livre de obstáculos. A
penalidade, que virou motivo de reclamações entre a população paulistana, é de
no mínimo R$ 300 por metro linear e o cidadão multado tem até 15 dias de prazo
para recorrer a partir da publicação da autuação no Diário Oficial da Cidade -
ou do recebimento da notificação, enviada pelo Correio.
Pergunto-me
se realmente é no bolso do paulistano – literalmente – onde mora a saída para
os problemas de reforma e conservação das nossas calçadas.
Após alguns
meses que vigora em São Paulo, a nova lei não tem mostrado grandes resultados.
Falo isso, porque, além de lutar para levar o tema da acessibilidade para
pauta do Poder Público, sou uma pedestre. Sim,cadeirante também
é pedestre! E assim como um “andante”, eu tenho que driblar obstáculos para
“cadeirar” diante das péssimas condições de nossas calçadas.
E digo NOSSA
porque a calçada é um bem de todos. Do proprietário e do visitante.
Um exemplo
simples ilustra o que quero dizer: lixeiras, vasos de plantas, bancos,
cadeiras, grades, floreiras, cinzeiros... Nada disso pode ser colocado na
calçada de uma hora para outra, por livre escolha do proprietário do imóvel.
Para isso, é preciso ter um Termo de Permissão de Uso (TPU) expedido pela
Prefeitura. Esta regra também vale para os comerciantes, que costumam parar
churrasqueiras na calçada e até mesmo as populares ‘TVs de cachorro’, que ficam
paradas em frente a bares e padarias, impedindo a passagem dos pedestres. Sem
esse termo, tudo não passa de irregularidade.
Para exigir
um padrão de qualidade para o seu passeio, o munícipe, algumas vezes, tem de
seguir padrões de construção na hora de reformar a sua própria calçada. E o
Poder Público, por sua vez, deve orienrtar a população sobre os meios de se
denunciar irregularidades, bem como as formas de se fazer as mudanças adequadas
na hora de implantar a calçada correta. Mas, infelizmente, ainda falta
informação e sobra burocracia.
Quando
falamos de calçada estamos nos referindo a um bem coletivo que proporciona
qualidade de vida para toda a população e não a um só grupo específico. Se a
calçada é acessível para mim, que sou cadeirante, ela será para cegos, jovens,
mães com carrinho de bebê, mulheres com sapato de salto alto... enfim, calçada
bem projetada protege até os distraídos.
Aqui em São
Paulo, enquanto fui vereadora da cidade, criei a Lei do PEC, o Plano
Emergencial de Calçadas, que determina que a Prefeitura reforme o passeio
público das rotas estratégicas determinadas pela Secretária Municipal da Pessoa
com Deficiência. Estas rotas tratam-se dos locais onde se encontram os
principais serviços dirigidos à população, como escolas, hospitais, creches,
bancos, empresas etc.
Quando
melhoramos 10% dos passeios públicos que estejam em rotas estratégicas - leia-se
locais de maior concentração de serviços - resolvemos 80% da mobilidade de um
município. Contudo, sem este planejamento, a Prefeitura tem de tomar outras
medidas, como a aplicação de multas, responsável por gerar mais reclamações que
soluções realmente eficientes.
E, ainda sim,
o trabalho de fiscalização, que é de obrigação do Executivo, só ocorre após
denúncias dos pedestres. Sem essas reclamações, que chegam, principalmente, por
meio do site da Prefeitura ou diretamente nas subprefeituras, a fiscalização
não é feita. É aí que voltamos a um ponto crucial neste ciclo: a participação
do cidadão.
Se informar é
imprescindível para que fiquemos atentos ao nosso papel como agentes da
transformação do meio em que vivemos. Mais importante que reclamar é participar.
As calçadas são o cartão postal das cidades. Elas não só deflagram o
planejamento urbano de bons gestores, como as atitudes de uma população
consciente e inclusiva. Promover estas frentes tem de fazer parte da nossa luta
diária por uma cidade mais acolhedora.
Fonte: Vida Mais Livre
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