Ensino fundamental: 80% dos deficientes mentais não se formam
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O estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
revela ainda que 61,1% da população com 15 anos ou mais e que porta pelo menos
uma deficiência não tem nenhuma instrução ou não completou o ensino
fundamental. Este número cai para 38,2% entre os que declaram não ter nenhuma
dificuldade.
Na pesquisa, foram consideradas as deficiências visual, motora, auditiva
e mental, sendo as três primeiras divididas por grau de severidade. "A
mental já é considerada uma deficiência severa", explica Andrea Borges,
coordenadora do Comitê do Censo Demográfico do IBGE.
"Retardo do desenvolvimento intelectual caracterizado pela
dificuldade que a pessoa tem em se comunicar com outros, de cuidar de si mesma,
de fazer atividades domésticas, de aprender ou trabalhar, ou brincar".
Esta foi a definição usada no Censo para classificar portadores de deficiência
mental e para colocá-la no alto grau de severidade. Andrea aponta que isso é
diferente de doenças mentais como autismo e esquizofrenia, que não foram
consideradas no estudo. Lentidão no raciocínio e grau de atenção comprometido
são algumas das características que podem aparecer em portadores de
deficiências intelectuais. Em relação à Síndrome de Down, casos mais comuns nas
escolas, tais aspectos podem vir acompanhados de problemas na expressão oral e
na visão.
Apesar das barreiras nomeadas pelo IBGE, os alunos que carregam consigo
esta condição mostram avanços no processo de aprendizagem e de construção da
independência. Para Nívea Fabrício, diretora do Colégio Graphein, instituição
especializada na educação de crianças com dificuldades de aprendizado, planejamentos
adequados para cada aluno devem ser pensados para atingir um desenvolvimento
escolar de sucesso. "Depois que se aprende a trabalhar com ele e a usar as
estratégias necessárias, se consegue resultados supreendentes", comenta.
Elementos da rotina e o gosto por música, arte e outras áreas são
explorados pelos professores da instituição que buscam criar um currículo
específico para cada caso. "Tínhamos um aluno que gostava muito de rock, e
através de uma banda, a gente criou materiais. Com as letras, trabalhamos
interpretação de texto e escrita, com figuras, trabalhamos a memória",
lembra Maria Cecília Martins, pedagoga da escola.
A educadora explica que o ensino deve ser feito através de situações
concretas, como aulas de culinária e informática, para trabalhar matérias como
física e química. "No caso dos mais velhos, a gente adapta esses
conteúdos. Vamos buscar trabalhar atualidades, reportagens de jornais, o que
está ocorrendo no mundo. Isso desenvolve o raciocínio, a memória a compreensão
e a oralidade", diz.
A escola Matre Dei, também em São Paulo, apresenta uma proposta um pouco
diferente. A instituição aceita crianças e adolescentes com Síndrome de Down,
autismo, paralisia cerebral e deficientes físicos, mas os coloca em salas de
aulas com crianças sem necessidades especiais. Segundo Lucila Cafaro,
coordenadora da educação infantil, a integração ocorre de forma natural, já que
a maioria dos alunos entra na escola quando pequeno e se acostuma com as
diferenças ao longo do tempo. Para atender às condições especiais dos
estudantes, é feita uma adaptação do material pedagógico.
Pesquisadora
do IBGE aponta falta de escolas especializadas
Antonio, o garoto citado no início desta reportagem, teve as duas
experiências ao longo de sua vida escolar: frequentou turmas regulares e
especiais. Com a ajuda de uma educação direcionada, conseguiu terminar o ensino
médio. Apesar de não ver tanta diferença entre os dois tipos de escola, a mãe,
Carmen, enxerga uma vantagem na especializada: "Ali um vê a dificuldade do
outro, um ajuda o outro. É uma proposta muito interessante", observa.
Professora da Universidade Estadual de São Paulo (USP), Carmen acredita
que a ideia de inclusão só funciona até uma determinada série, "porque
quando ficam mais velhos, os alunos podem se tornar mais preconceituosos",
acredita. "Deveria ter em uma classe mais ou menos três crianças especiais
e isso tem que ser bem trabalhado pela escola". Entretanto, não crê que
este fator possa explicar a falta de instrução de portadores de deficiência
apontada pelo IBGE.
A coordenadora do Comitê do Censo Demográfico do IBGE atribui à falta de
escolas especializadas uma das causas para o resultado da pesquisa.
"Grande parte dessas pessoas têm mais idade e vem de uma época em que não
se tinha incentivo a pessoas com deficiência para entrar na escola. A educação
especial é algo mais recente", explica.
Porém, os portadores de necessidades especiais que terminaram o ensino
básico encontraram menos obstáculos no acesso à universidade. Os números
absolutos são discrepantes, mas proporcionalmente, a diferença cai
consideravelmente. Andrea aponta que 6,7% dos 2,2 milhões entrevistados com 15
anos ou mais e que declararam ter pelo menos uma deficiência terminaram o
ensino superior. No universo de 102,6 milhões que responderam não ter nenhuma
dificuldade, 10,4% acabaram a graduação, menos de quatro pontos percentuais em
relação aos portadores de necessidades especiais. A diferença é menor do que na
comparação entre os dados sobre a conclusão do ensino fundamental, que
representa 22,9 pontos percentuais.
A pesquisadora destaca ainda as diferenças regionais reveladas na
pesquisa. "A gente vê que o Sudeste é onde tem o menor percentual. É onde
tem um desenvolvimento econômico mais avançado, já está preparado para receber
este aluno com deficiência", analisa. A região sudeste apresentou o menor
percentual entre os declarados deficientes com 15 anos ou mais, com 52,6 %,
enquanto o Nordeste mostrou a maior porcentagem, com 67,7%.
Fonte: http://noticias.terra.com.br
-21/07/2012 - Imagem Internet
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