Espetáculo com deficientes intelectuais conquista o público em Avignon
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O Theater HORA, grupo de
teatro profissional suíço formado por deficientes mentais, é uma das revelações
esse ano do Festival de
Avignon. Dirigidos pelo coreógrafo francês Jerôme Bel, os 11 atores e
atrizes em cena propõem uma reflexão sobre a diferença e sobre nossa capacidade
em se relacionar com «o outro».
O espetáculo Disabled
Theater começa com uma instrução perturbadora dada pelo coreógrafo a cada
um dos artistas: entrar no palco e olhar fixamente o público durante 1 minuto.
Inicia-se aí uma viagem de uma hora e meia de descoberta de um mundo singular
pelos espectadores. Os artistas, todos deficientes mentais, nos embarcam em
sensações até então desconhecidas, com muito humor e sensibilidade.
Fundado em Zurique em 1993, o Theater HORA é um grupo
totalmente profissional: os artistas recebem salários e já têm uma tournée
fechada de espetáculos até o final do ano. A proposta da companhia não é uma
terapia ocupacional para os deficientes e sim uma maneira de mostrar o talento
dessas pessoas a um público cada vez mais abrangente.
Teatro Profissional
Os
artistas, que têm entre 18 e 51 anos de idade - 7 deles com Síndrome de Down -
apresentam atualmente por toda a Europa, adaptações de peças de Shakespeare e
textos de Fellini. O espetáculo em cartaz no Festival de Avignon, é uma criação
coletiva, onde cada artista fala livremente de sua própria percepção de sua
deficiência.
«Eles revelam nossas próprias fragilidades»
A experiência com o Theater HORA é a
continuidade do trabalho desenvolvido há 14 anos pelo coreógrafo Jerôme Bel. Ele se
interessa particularmente pelo que existe «além da apresentação». Desde 2004,
ele produz «documentários teatrais», ou seja, coloca em cena um bailarino ou
bailarina, que explicam ao público de maneira subjetiva o que é o seu trabalho.
«Eu peço aos intérpretes para eles encarnarem eles mesmos em cena», explica o
coreógrafo.
Nesse sentido, o trabalho com
o grupo suíço proporcionou um enriquecimento na pesquisa coreográfica de Jerôme
Bel. Os artistas deficientes mentais reagem de maneira tão livre que perturbam
nossa compreensão do outro e mexem com todas as convenções teatrais. “Seus
corpos e gestos tão singulares, suas falhas e suas sensibilidades nos revelam,
como num espelho, nossas próprias fragilidades e fraquezas” – resume Bel.
Para o coreógrafo francês,
esses artistas, desvalorizados pela sociedade normativa, podem, com sua
espontaneidade e intensidade, enriquecer o teatro e a dança experimental. E, em
última instância, enriquecer a sociedade como um todo.
Disable Theater está em cartaz no Festival de Avignon
até 15 de julho próximo. A partir de setembro, segue em tournée pela Europa : o
grupo fará dois espetáculos na Documenta de Kassel em Essen e se apresenta
ainda em Genebra, Zurique, Mainz, Paris e Berlim.


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