Em Fortaleza, três iniciativas acessíveis

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Entre tantos papéis sociais, a arte também tem a função de incluir. Aqueles que possuem algum tipo de necessidade especial, seja deficiência física ou intelectual, têm o mesmo direito de apreciar produtos artísticos. Cabe aos equipamentos culturais, então, se munir de ferramentas para viabilizar o acesso à arte e não só construir rampas e salas mais amplas para cadeirantes, mas também investir em tradutores de libras para deficientes auditivos e, para os deficientes visuais, o sistema braille e a audiodescrição.

Museus e galerias de arte, em Fortaleza, têm atentado para acessibilidade cultural. Atualmente, três equipamentos, pelo menos, pensaram seus acervos para a fruição de pessoas com deficiência.

O Memorial da Assembleia Legislativa Deputado Pontes Neto (Malce) inaugurou, em maio, sistema de acessibilidade. A exposição com acervo permanente do espaço está disponível para deficientes auditivos e visuais por meio da audiodescrição, braille e libras.

O Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS) disponibiliza sistema de audiodescrição em exposição com acervo do músico e compositor cearense Paurillo Barroso.

Já no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc), a exposição Exercício da Pintura à Óleo de Francisco Wagner terá visitação acessível para deficientes visuais guiada pelo próprio artista plástico. A visitação ocorre dia 6, a partir das 9 horas, no Mauc. A iniciativa da visita partiu do Programa de Educação Inclusiva e Acessibilidade da Universidade Federal do Ceará, projeto de extensão vinculado a Secretaria de Acessibilidade da UFC.

"Não deve haver restrição na arte. Nós, artistas, temos mais é que ampliar para que a informação possa circular de modo mais completo", conta Francisco Wagner. O artista plástico e pedagogo acredita que a acessibilidade deve ser trabalhada em todos os espaços dedicados a arte e destaca também a importância desse público. "O grau de percepção deles é outro, nós temos muito que aprender com pessoas especiais". Os deficientes visuais poderão ler sobre as obras por meio do braille e terão permissão de tocar nas telas.

Autora do projeto que trabalha a audiodescrição no MIS, Myreika Falcão diz que a exposição do acervo do músico Paurillo Barroso foi pensada tendo os cegos como público-alvo. "Queremos incluir os deficientes visuais e pessoas com problemas de visão. Para isso, disponibilizamos o acervo do Paurillo com várias especificidades para esse público". Além da audiodescrição, Mireyka destaca as informações disponíveis em braille, réplica do rosto do Paurillo em alto relevo, acesso ao toque dos figurinos do músico, áudio das canções e aromas trabalhados pelo artista, que também era perfumista.

Ainda falta interesse

Com a inauguração do sistema de acessibilidade no memorial da Assembleia Legislativa, pessoas com deficiências auditiva e visual podem ter acesso a todo o acervo da exposição permanente. Ana Elise, coordenadora de pesquisa do memorial, entretanto, avalia que é preciso maior interesse por parte das entidades que trabalham com deficientes. "Só o empenho dos equipamentos culturais não garante a acessibilidade adequada, pois é preciso que as fundações e escolas que trabalham com pessoas com necessidades especiais ocupem esses espaços".

Segundo Ana Elise, a acessibilidade só será plena com a participação efetiva dos deficientes nos espaços culturais e o estabelecimento do diálogo com esse público. "É preciso que as entidades nos procurem para que possamos aperfeiçoar a acessibilidade". Ela acrescenta que a Assembleia disponibiliza ônibus para transportar o público das instituições ao memorial.

O quê

O debate sobre acessibilidade cultural vai além da construção de rampas e instalação de piso podotátil. A arte inclusiva deve pensar meios, como, a audiodescrição, a tradução em libras, uso de elementos olfativos e táteis.

Fonte: Jornal O Povo

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