Surdos pedem alterações em meta do PNE que trata do acesso de alunos com deficiência à educação
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Entidade nacional que representa as pessoas com deficiência
auditiva pede mudanças na
Meta 4 do Plano
Nacional de Educação (PNE). A preocupação é que, com a atual redação, os
surdos deixem de receber uma educação voltada para eles e sejam prejudicados. Apesar das
mudanças propostas em 19/09 pelo senador Vital do Rêgo (PMDB-PB),
os surdos não se sentem contemplados. O PNE estabelece metas para o setor para
os próximos dez anos. A Meta 4 trata do acesso de alunos com deficiência à
educação básica e tem sido alvo de polêmica desde o mês passado.
A Federação
Nacional de Educação e Integração dos Surdos (Feneis)pede
que sejam feitas alterações no item 4.6 da meta. Eles pedem que a redação
aprovada na Câmara dos Deputados seja retomada. O texto dizia que a oferta de
educação bilíngue em Língua
Brasileira de Sinais (Libras) deveria ser
garantida aos alunos surdos e com deficiência auditiva com até 17 anos, em
escolas e classes bilíngues e em escolas inclusivas.
No Senado, as escolas inclusivas foram
retiradas do texto. "O que os surdos querem é garantir a diversidade de
opções e que os familiares consigam e tenham o direito de escolherem onde os
filhos estudam", diz a doutora em linguística e assessora da diretoria de
Políticas Educacionais da Fenesis, Sandra Patrícia de Faria do Nascimento.
Sandra explica que, nas escolas inclusivas,
um intérprete traduz a aula dada em português para os alunos surdos. Já na
escola bilíngue, a aula é dada em Libras. Segundo a especialista, a maior parte
dos surdos prefere a escola bilíngue por ter Libras como a primeira língua. Com
a ausência de "escolas inclusivas" no PNE, a entidade teme que as
escolas bilíngues e inclusivas sejam consideradas iguais e que as inclusivas
predominem, prejudicando o aprendizado dos alunos.
No Brasil, são quase 10 milhões de surdos e
pessoas com deficiência auditiva. Do total, cerca de 800 mil tem até 17 anos,
segundo o Censo de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
No Distrito Federal, a Escola Bilíngue,
Libras e Português Escrito de Taguatinga foi uma conquista da comunidade surda
da cidade. Segundo a diretora da escola, Marciley Ferreira Côrtes, foram 20
anos de luta até que o centro de ensino fosse criado em julho deste ano. A
escola funcionava como escola inclusiva. Agora como bilíngue, continua
oferecendo classes regulares, além das classes voltadas para os surdos.
"Vimos que em uma escola inclusiva
acabávamos perdendo muito. O vocabulário do surdo é limitado em relação ao do
ouvinte", diz Marciley. A escola atende a 120 estudantes surdos e filhos
de surdos em classes bilíngues e 350 alunos em classes regulares.
O funcionário público Orlando Ilorca é pai
de Fernanda, de 14 anos. Ela tem distúrbio do processamento auditivo, "um
primo do surdo", explica. Apesar de a filha não estudar em classe
bilíngue, pela distância do local onde mora, o pai defende o tipo de escola.
"Vejo que em um ensino inclusivo, não há inclusão. Pode ir em uma escola
onde haja surdos e ouvintes. Um fica de um lado e o outro do outro", diz
ele.
"Quando o professor entende os gestos
dos alunos e não há mediador, a motivação de estudar é diferente",
explica, defendendo o ensino bilíngue. Sobre a possibilidade de o texto do PNE
atrapalhar o surgimento das escolas em detrimento das inclusivas, Ilorca
lamenta: "Agora que as escolas bilíngues estão surgindo. Abriram um
caminho para os surdos que muitas outras pessoas com deficiência não
conseguiram".
O novo texto deve ser votado na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) do Senado Federal na próxima semana. Em
audiência no Senado Federal, o ministro da Educação, Aloizio Mercadante,
ressaltou a importância de que as crianças estudem em escolas públicas comuns
como forma de estimular o respeito e a convivência com pessoas diferentes. “Por
exemplo, uma criança surda precisa estar em um momento do desenvolvimento dela
na escola especial para aprender Libras [Língua Brasileira de Sinais], aprender
a conversar na linguagem dos surdos. Mas ela precisa ir para a escola pública
para aprender a conviver com os outros e para os outros aprenderem a conviver
com a diferença".
Para Orlando, a convivência pode ser
estimulada em uma escola bilíngue. "A escola não exclui o ouvinte. A
inclusão é inversa, o colégio de surdo absorve o ouvinte".
Fonte: Agência Brasil
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