Justiça Federal obriga Ministério das Comunicações a rever portaria de acessibilidade na TV
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O Ministério das Comunicações tem 60 dias, a
contar da intimação da decisão da 5ª Turma do TRF da 1ª Região, para cumprir o
cronograma constante do item 7.1 da Norma Complementar nº 01/2006, no que se
refere à implementação do recurso de audiodescrição, sob pena de multa no valor
de R$ 5 mil por dia de atraso. A determinação suspende novo cronograma fixado
pelo Ministério, por meio da Portaria MC nº 188/2010,
com escala de programação bem menor do que a prevista na Norma Complementar.
A ação em que se busca a implantação do recurso de audiodescrição nas
programações das exploradoras dos serviços de radiodifusão de sons e imagens e
do serviço de retransmissão de televisão, conforme cronograma fixado pela Norma
Regulamentadora nº 01/2006, foi movida pelo Ministério Público Federal (MPF).
Em primeira instância, o processo foi extinto sem julgamento do mérito.
Ao analisar o caso, o Juízo da 14ª Vara Federal da Seção Judiciária do
Distrito Federal (SJDF) entendeu que, "diante da superveniente
regulamentação da matéria, que prevê a adoção da audiodescrição a partir do mês
de julho próximo, perdeu-se o interesse processual de agir com fundamento na
antiga regulamentação".
Inconformado, o Ministério Público recorreu ao TRF da 1ª Região,
destacando que a premissa "de que o MPF não tem mais interesse de agir é
totalmente equivocada, eis que as questões suscitadas na inicial não foram
solucionadas, continuam patentes, gritantes e sem receber as devidas
providências por quem de direito". Sustenta, ainda, que, não obstante as
garantias existentes, mesmo com o advento da Portaria MC nº 188/2010, na
prática os deficientes visuais continuam sem acesso à televisão, posto que a
referida portaria "restringe direitos assegurados pela Norma Complementar
nº 01/2006 do Ministério das Comunicações".
O relator, desembargador federal Souza Prudente, concordou com as
alegações apresentadas pelo MPF. "Verifica-se que as questões suscitadas
na inicial não foram solucionadas com a normatização dada pela Portaria nº
188/2010, caracterizando-se, assim, o manifesto interesse do Parquet Federal em
prosseguir no feito", afirmou.
O magistrado explicou em seu voto que a audiodescrição é um recurso de
acessibilidade, que permite a qualquer usuário, mesmo aquele que não pode
enxergar, receber a informação contida na imagem ao mesmo tempo em que esta
aparece, possibilitando apreciar integralmente a obra, seguir a trama e captar
a subjetividade da narrativa da mesma forma que alguém que enxerga
perfeitamente.
Para o desembargador Souza Prudente, a Lei nº 10.098/2000
"materializou o direito à remoção de barreiras de comunicação para as
pessoas com deficiência (arts. 17 e 19) e o Decreto nº 5.096/2004 determinou de
que forma essa garantia à acessibilidade se daria nos meios de comunicação,
enquanto a Norma Complementar nº 01/2006 estabeleceu cronograma para efetivação
das medidas de inclusão das pessoas com deficiência no que se refere à
programação televisiva, visando dar eficácia plena aos comandos da Constituição
da República Federativa do Brasil, que garante a todos (direito difuso e
fundamental) o acesso à informação (CF, art. 5º, XIV), promovendo a integração
na vida comunitária das pessoas portadoras de deficiência (CF, art. 203, IV) e
assegurando a todos o pleno exercício dos direitos culturais e acesso às fontes
de cultura nacional (CF, art. 215, caput”).
O relator salientou em seu voto que, na ótica do Supremo Tribunal
Federal (STF), o princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de
direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as
conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que vive.
"Em manifesto prejuízo aos quatro milhões de brasileiros com deficiência visual, o Ministério das Comunicações editou a Portaria nº
188/2010, que fixou novo cronograma de implantação do recurso de audiodescrição
cujo conteúdo é bastante restritivo em relação às conquistas previstas na Norma
Complementar nº 01/2006 a caracterizar, na espécie, a ilegitimidade do
cronograma", afirmou.
E complementou: "As restrições aos direitos das pessoas com deficiência visualvisuais, elencadas na Portaria nº 188/2010, afiguram-se como
graves violações aos princípios da não discriminação, da proibição do
retrocesso e da isonomia, na medida em que impõe tratamento diferenciado ao
mesmo universo de telespectadores que pretendem ter acesso às fontes de cultura
nacional".
A decisão foi unânime.
Processo nº 4712-38.2009.4.01.3400
Data do julgamento: 02/10/2013
JC
Assessoria de Comunicação Social
Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
Tribunal Regional Federal da 1ª Região.
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