A rápida evolução do rugby em Cadeira de rodas no Brasil

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O Brasil é mundialmente reconhecido pela prática dos esportes paralímpicos. Prova disso são os desempenhos cada vez melhores nos principais torneios internacionais, destacando o País como potência em atletismo, judô, futebol e natação. Mas outras modalidades ainda estão crescendo e ganhando seu espaço. É o caso do Rugby em Cadeira de Rodas (RCR) que, oficializado com a criação da Associação Brasileira de Rugby em Cadeira de Rodas (ABRC), em 2008, já trouxe uma medalha de bronze dos Jogos Parapan-Americanos de Guadalajara (MEX), em 2011.
Além de abrir as portas para a inclusão, a modalidade oferece aos amantes dos esportes de maior contato físico a oportunidade de mostrar não só a sua força, mas também sua velocidade, sua inteligência e sua agilidade, já que essas são as principais características do Rugby em Cadeira de Rodas.
O EXPOENTE

Nessa modalidade emergente, um dos destaques é Marcilio Nunes, atleta profissional do RCR. Nunes foi medalhista, com bronze pela Seleção Brasileira no Parapan-Americano de Guadalajara (Méx) em 2011, campeão brasileiro pelo Gladiadores (PR) em agosto deste ano e vice-campeão nacional três vezes (2010, 2011 e 2012).
No entanto, a maior conquista para o campeão vai além das medalhas. E tudo isso porque um acidente ocorrido há oito anos mudou a vida dele. “Fui realizar um mergulho na represa de Guarapiranga, em São Paulo, no dia 16 de abril de 2005. O problema foi que o local escolhido era de água rasa, e acabei fraturando a sétima vértebra da coluna cervical (C7) ao mergulhar”, contou.
Somente após cinco anos convivendo com a tetraplegia, Marcilio optou por começar a praticar esportes adaptados. “Tentei iniciar o Basquete em Cadeira de Rodas, no Hospital do Coração, em 2010. Como sou tetraplégico, tinha dificuldade para praticá- lo pela falta de movimento nos dedos. Foi então que algumas pessoas indicaram que eu conhecesse o RCR, e recomendaram o Tigres, um extinto time de São Bernardo do Campo (SP). Logo no dia em que conheci e sentei na cadeira de jogos, percebi que era o esporte pelo qual tanto procurei.”
Além de abrir as portas para a inclusão, a modalidade oferece a oportunidade de mostrar não só força, mas também velocidade, inteligência e agilidade
Para ele, o Brasil ainda está distante de possuir a estrutura dos países que são considerados potências na modalidade. “Tenho certeza de que, devagar, chegaremos no nível dos Estados Unidos, Canadá e Espanha, que possuem grandes equipes e oferecem excelentes estruturas para que o RCR seja praticado. Por enquanto, existe uma certa diferença entre a prática em nosso País e nesses outros três”, contou.
Por fim, Marcilio Nunes aconselhou que as pessoas se aventurem mais em suas vidas e indicou a prática do esporte. “Devemos parar de pensar que não é possível realizar algumas coisas que temos vontade.
Se está interessado no RCR, tente começar a praticá- -lo. É muito bom, aprende-se um com o outro e faz bem para a saúde e a mente. Indico para todas as pessoas que sofrem de alguma lesão que seja permitida na modalidade”, concluiu (ver quadro sobre a prática).
A prática pode ser realizada por pessoas com lesão medular caracterizada como tetraplegia, paralisia cerebral, amputação ou deformidade nos quatro membros e sequelas de poliomielite
CALENDÁRIO

O calendário do Rugby em Cadeira de Rodas segue a todo vapor ainda neste ano. Nos dias 26, 27 e 28 de setembro, acontecerá uma clínica de técnicos de RCR em Niterói (RJ) que vai instrumentalizar os clubes filiados, bem como democratizar todas as informações que levem a um equilíbrio entre as equipes. O evento irá contar com a presença de profissionais brasileiros e estrangeiros. Inclusive, a participação de técnicos poloneses já está garantida.
Em outubro, na cidade de Birmingham, Alabama (EUA), será realizado o Panamericano da modalidade. Argentina, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Estados Unidos, México, Paraguai e Peru serão os países participantes.
Por fim, em novembro, o Peru sediará o Torneio Maximus para seleções da América do Sul. Os participantes serão os mesmos do Panamericano com exceção dos Estados Unidos e Canadá.
A prática
Adeilton de Souza Sene, também conhecido como Panda, é quem explica como funciona o RCR e conta, também, sua experiência com ele. Formado em Educação Física, ele é Diretor Geral Regional de Arbitragem do Estado de São Paulo em Rugby em Cadeira de Rodas, Árbitro da Associação Brasileira e, na última edição das Paralímpiadas, realizada em Londres (ING), foi comentarista do canal SporTV/ GloboSat.
Panda não sofre com lesões, mas revelou que seu envolvimento com o esporte paralímpico se deu graças a um episódio que poderia ter sido uma fatalidade. “Quando eu ainda era criança, sofri um acidente e quase perdi meu antebraço esquerdo. Acho que isso estava escrito por Deus para que, com o membro, eu pudesse trabalhar em prol da pessoa com deficiência. Luto pela causa por meio do esporte”, ele conta.
O primeiro contato com a modalidade aconteceu em 2009, quando ainda trabalhava como professor de Educação Física no Projeto Suzano Paralímpico. Á partir daí decidiu se tornar árbitro, realizando o curso e arbitrando pela primeira vez em um amistoso entre São Paulo e Rio de Janeiro, realizado na Reatech de 2010. Dois anos após iniciar na nova profissão (2012), ganhou o prêmio de Melhor Árbitro do Campeonato Brasileiro.
“O Rugby em Cadeira de Rodas significa uma lição de comprometimento, dedicação e superação. Mesmo sendo muito novo no Brasil, já estamos entre as três melhores equipes das Américas, atrás, somente, de Estados Unidos e Canadá. Isso é fantástico para nós, envolvidos e apaixonados pela modalidade”, declarou o árbitro, que ainda ressaltou o quanto é gratificante trabalhar nesse meio. “Conversar com os atletas nos bastidores e poder ver o empenho deles para superar seus limites e praticar a modalidade traz um aprendizado a cada partida. Costumo dizer que é um jogo de guerreiros da Idade Média em que os corpos são preservados e as batalhas contam sempre com honra e glória.”
SENTIDOS: Como é a prática do RCR e quais pessoas podem participar?
Panda: A prática pode ser realizada por pessoas com lesão medular caracterizada como tetraplegia, paralisia cerebral, amputação ou deformidade nos quatro membros e sequelas de poliomielite. Assim, os jogadores são divididos em sete classes de acordo com a habilidade funcional e dentro de uma escala que vai de 0,5 a 3,5. Quanto maior a classe, maior o potencial funcional.
Cada equipe só pode ter quatro participantes em quadra ao mesmo tempo, sendo que, para manter o equilíbrio, a soma deles não pode exceder oito pontos. O jogo é disputado em uma quadra de basquete, e a bola é semelhante à do voleibol. Uma partida é dividida em quatro tempos de oito minutos cada, sendo que é paralisada em caso de falta ou quando a bola sai.
Os atletas podem conduzir a bola sobre as coxas, quicá-la ou passá-la. O tempo de posse da mesma é indeterminado, mas terá de quicá-la ao menos uma vez a cada dez segundos. Os jogadores têm até 12 segundos para entrar no campo do oponente e 40 para finalizar a jogada. O objetivo do Rugby em Cadeira de Rodas é marcar o gol, que é delimitado por dois cones verticais na linha de fundo da quadra. Entretanto, é preciso cruzar a linha adversária com as duas rodas da cadeira.
Quais são os equipamentos necessários?
Como as regras deste esporte permitem um alto grau de contato entre os jogadores, existem cadeiras de rodas de ataque e de defesa, confeccionadas com preocupações táticas e de segurança. As primeiras têm um para-choque frontal e espécies de asas para que não fiquem presas em meio às jogadas, enquanto as segundas possuem um acessório na parte da frente justamente para impedir os avanços dos rivais.
Como funcionam as faltas?
Não há um contato direto entre atletas e, quando um atleta toca o outro a fim de tirar-lhe a bola, o mesmo é advertido por uso ilegal das mãos. As cadeiras se tocam o tempo todo, mas os atletas não. Um jogador de ataque não pode realizar nenhum contato que coloque o defensor em risco de lesão ou até de integridade física.
Quais as principais diferenças do RCR para o não adaptado? E as semelhanças?
No Rugby convencional, a bola é passada lateralmente, o que não é uma regra no Rugby em Cadeira de Rodas. Mas, o impacto das cadeiras é igual ao impacto dos atletas andantes. Fora isso, utiliza-se as dimensões da quadra e de algumas regras do basquete, da bola do voleibol e punições de jogo do hóquei no gelo.
É possível ser árbitro sendo cadeirante?
É mais comum que sejam árbitros e mesários que organizem o jogo fora das quatro linhas. Porém, o fato de a pessoa ser cadeirante não tira a capacidade de ela arbitrar e, ao contrário do que muitas pessoas podem imaginar, existem árbitros cadeirantes sim.
Indica a prática da modalidade?
À primeira vista parece ser um jogo violento em função do dinamismo e do alto grau de impacto. Porém, conforme o participante se integra à equipe e começa a praticar, acaba sentindo a sensação de estar em liberdade por precisar de muito controle sobre sua cadeira e inteligência para concluir as jogadas.
 
 

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