Ensino a distância para alunos autistas
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Desde março desse ano de acordo com a UNESCO mais de 776 milhões de alunos no mundo deixaram de ir à escola devido a pandemia do COVI 19, esse impacto logo em primeiro momento causou um verdadeiro colapso no sistema de educação e claro em milhões de famílias ao redor do mundo, principalmente nas famílias com crianças autistas. Toda essa mudança trouxe para essas famílias uma nova realidade e diversos questionamentos o mais preocupante de todos com certeza foi; como vou ensinar meu filho autista em casa? Colocando em números de alunos com autismo na rede educacional seguindo a base da OMS de 1% da população; (a OMS estima que o número de autistas é de 2% da população, sendo esse número 1% em idade escolar); estaríamos falando aí em aproximadamente mais de 7 milhões de alunos autistas fora das salas de aula.
Os pais precisaram novamente se adequar a essa realidade, mas não era apenas uma mudança educacional, mas também uma mudança em toda a rotina que a criança ou jovem com autismo já estava se adequando, sim, muitos autistas necessitam dessa rotina para poderem se regular emocionalmente e fisicamente e esse impacto trouxe algumas dificuldades. Nos relatos principais dos pais que recebi algumas foram mais especificas:
A não aceitação na execução das atividades propostas pelos professores
Esse ponto foi muito crucial, uma criança autista em sua grande maioria não consegue compreender que assistir “aulas” via internet é um procedimento educacional, para muitos o celular ou computador é um meio de “brincar”, assistir seus vídeos de desenho, música ou jogos e não para estudar, e outro aspecto pai e mãe para eles não são o professor (a), essa foi e ainda é uma barreira muito grande para a maioria.
Dica: Fracionar as atividades, a criança ou jovem autista não segue o mesmo currículo dos demais alunos em sua maioria, devendo ter esse material adaptado, uma opção seria continuar com esse currículo em forma de atividades adaptadas e lúdicas, facilitando assim a compreensão. Os pais poderiam assistir as aulas e depois repassar para seus filhos de uma forma mais fracionada.
Não veio os materiais adaptados do meu filho
Essa foi outra questão que dificultou muito, se uma criança é autista e tem comprometimento cognitivo com certeza na escola ele terá todo o seu currículo adaptado e nesse momento de atividades em condições de homeschooling* o mesmo procedimento deveria ter sido seguido, mas essa foi uma das maiores reclamações dos pais.
Dica: Os pais não são profissionais da educação acadêmica, sempre falo a diferença para o sistema educacional, então o brincar era uma solução para as atividades, transformar a atividade proposta pelos professores em brincadeiras, mesmo porque muitas crianças autistas aprendem de forma mais funcional quando executam atividades práticas.
Não tenho como seguir todo o cronograma enviado pela escola
Isso com certeza foi um aspecto preocupante, mesmo porque, como a criança obteria as avaliações necessárias para comprovar que conseguiu aprender tal atividade? Ensino em casa ainda não é uma realidade em nosso pais, o máximo que os pais executam é ensinar atividade diárias para seus filhos e crianças com autismo novamente em sua grande maioria em normalidade escolar não leva atividades de casa, todos os exercícios são feitos em sala de aula ou em sala de recurso, então não seria adequado nesse momento exigir tal procedimentos dos pais, mesmo porque, não é uma função deles já que não optaram pelo sistema como dito antes de homeschooling.
Dica: Siga o ritmo da criança, tente estabelecer o horário que ele (a) iria para a escola, mantendo a rotina e inicie as atividades, dando tempo para execução, mesmo porque sejamos honestos mesmo na escola a criança não executa todas as atividades propostas no mesmo dia, as vezes uma mesma atividade precisa ser reforçada várias vezes durante a semana não chegando a mais de três ou quatro atividades funcionais e de qualidade.
Se a criança for agitada então todo uma adequação de tempo é crucial, então dê espaço de tempo.
Observe a criança, veja se está sendo funcional e prazeroso a execução da atividade, faça uma de cada vez se for o caso e vá riscando as que ele (a) consegue executar de forma funcional e com qualidade e só assim passe para a outra. Tudo vai depender do nível e dos comprometimentos que ele (a) possui e deve ser avaliado de forma pontual e não por execução de avaliação por nota e isso também vale para o ensino domiciliar.
Meu filho (a) estava em processo de alfabetização e agora tudo retrocedeu
A alfabetização é um processo lento e focal, existe todo uma sequência de atividades para tal e como dito antes não são todos os pais que terão essa habilidade, mesmo porque a criança ou jovem autista necessita também de um processo agregado de letramento para chegar a funcionalidade dessa etapa. A rotina e sequencia desse processo com certeza com essa paralização ficou prejudicado, mas não perdido.
Dica: Com os materiais enviados pelos professores os pais podem dar continuidade, mas seguindo uma análise pontual da evolução da criança e não no seu ritmo, é difícil para os pais pensarem como alfabetizadores porque nós já sabemos ler e a impaciência pode prejudicar esse processo, então vá com calma, não tenha pressa nessa etapa, veja a evolução da criança ou jovem autista nas demais praticas em casa, veja se ele (a) consegue generalizar o que ensinou, se coloca em outras atividades e ai sim passe para o próximo passo.
E não se esqueça, mais do que ensinar o seu filho (a) e seguir todas as atividades enviadas pelas escolas o mais importante nesse momento é se incluir nas atividades, sentir prazer na execução delas e também reconhecer quando não estiver preparada (o), se dar o tempo para absorver e se preparar para tal e só aí começar no seu ritmo as atividades, no seu ritmo.
Emanoele Freitas. Fundadora e presidente da AAPA – Associação de Apoio à Pessoa Autista. Especializada em Autismo pela Universidade UC DAVIS. Mãe de Eros Micael. Motivador de toda pesquisa e desenvolvimento de trabalhos, palestras e cursos referente ao Autismo. Autora dos livros “Transtornos do Neurodesenvolvimento – Conhecimento, planejamento e inclusão real” e “Mediador escolar – Recriando a arte de ensinar”, publicados pela WAK Editora.
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