Tecnologia assistiva dos centros universitários ainda demora a chegar a quem precisa
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O desenvolvimento de estudos para avaliar a
viabilidade de implementação da versão de um ampliador de tela voltado, mas não
restrito, para pessoas com baixa visão foi o primeiro trabalho na área de
tecnologia assistiva, em 2003, do Grupo de Inteligência Aplicada (GIA), criado
em 2002 na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e homologado
pelo Conselho Nacional e Tecnológico (CNPq). Até hoje, o ampliador é um de seus
principais projetos.
Apoiado pelo Núcleo de Inovações Tecnológicas
da universidade e pelo Programa de Educação Especial, o GIA reúne um conjunto
de professores pesquisadores e alunos (em sua maioria estudantes do curso de
Ciência da Computação), além de colaboradores externos como professores da rede
pública de ensino, especializados em educação especial, médicos oftalmologistas
e outros interessados.
Conta também com a participação efetiva de
escolas públicas da região e outras instituições de pesquisa parceiras, entre
elas, o CTI - Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer do Ministério da
Ciência e Tecnologia, de Campinas/SP. Movidos por demandas da comunidade, o
grupo procurou uma solução que fosse, ao mesmo tempo, de fácil uso, mas,
sobretudo acessível, especialmente, para pessoas de baixa renda, notadamente
alunos de escolas públicas de periferia.
De sua versão original até agora, o software
ganhou novos contornos, passou por várias modificações e ajustes,
apresentando-se atualmente em diferentes formatos. O professor Jorge Bidarra,
um dos integrantes do grupo, juntamente com os professores Marcio Seiji Oyamada
e Clodis Boscarioli, explica algumas mudanças: "De ampliações de imagens e
textos, que na versão original do ampliador somente era possível em parte da
tela do computador, a solução evoluiu para ampliação em tela cheia. Além disso,
foram agregados à ferramenta um leitor de tela, bem como a possibilidade de o
usuário configurar o ambiente segundo as suas necessidades, seja em relação ao
tipo de mouse (em cruz ou em ponteira) ou à definição do contraste que melhor
se adapte às necessidades visuais de cada indivíduo".
O grupo considera que os resultados até agora
são bastante animadores e que, por suas características e potencialidades, vêm
chamando a atenção de pessoas e instituições interessadas (empresas e centros
de pesquisa). "Ainda não tivemos a oportunidade de repassar as nossas soluções
como produtos para as entidades. Dadas as nossas possibilidades, o que
procuramos manter são alguns protótipos distribuídos nas escolas públicas com
as quais trabalhamos", explica Bidarra.
Atualmente são três tipos de solução: um
ampliador de tela para execução em desktop; um terminal de autoatendimento, do
tipo caixas automáticos de bancos, ao qual foram agregados recursos de
ampliação, leitura de tela e um mouse que vibra quando posicionado sobre áreas
da tela que contenham informações importantes, tais como: ícones, links e
outros, provendo assim feedback auditivo, visual e motor e, mais recentemente,
uma versão móvel que conectada a um monitor, via USB, ou a uma TV digital com
entrada HDMI, permite ao usuário projetar com recursos de ampliação e definição
de contraste textos e imagens de revistas, jornais ou qualquer outro tipo de
material impresso. Todas essas soluções têm sido apresentadas em diferentes
fóruns técnicos e científicos, bem como em feiras, nacionais e internacionais.
Tudo que é desenvolvido tem com base a
filosofia de software livre e uso de peças retiradas de máquinas/equipamentos
colocados em desuso – lixo eletrônico, como os gabinetes de caça-níqueis que
foram doados por uma das Comarcas da Justiça Criminal localizada na região,
para fins de pesquisa e desenvolvimento de soluções sociais.
O software desenvolvido para a ampliação,
denominado xLupa, apesar de se tratar de um software livre, teve a autoria
protegida junto ao INPI, assim como o Terminal de Autoatendimento. A proteção
intelectual da versão móvel ainda se encontra em trâmite na universidade.
A partir desses trabalhos, novas soluções
voltadas para pessoas com deficiência estão em fase de estudos, pesquisas e
desenvolvimento com grupos de professores e alunos, também membros do GIA e do
PETComp (Programa de Educação Tutorial em Ciência da Computação), que estão
desenvolvendo jogo educacional inclusivo para crianças surdas. Outra pesquisa,
mas ainda bastante incipiente, voltada para o estudo e desenvolvimento de sistemas
de tradução/interpretação automática de Português para Libras, começa a ser
delineada. "Em todo o mundo, não sendo diferente no Brasil, o envolvimento
de centros de pesquisas, como as universidades, tem sido de fundamental
importância e absolutamente necessário para o desenvolvimento de tecnologias.
Mas, embora não seja função das universidades comercializar os resultados de
suas pesquisas, especialmente aquelas que podem se transformar em
produtos/soluções técnicas inovadoras (cuja competência caberia às empresas), o
que ainda nos difere substancialmente (instituições brasileiras de pesquisas,
de uma forma geral) dos países desenvolvidos é a falta de relacionamento,
facilidades e incentivos governamentais que propiciem o contato entre
elas", lamenta o professor.
Para ele, o que tem acontecido no Brasil,
salvas raríssimas exceções, é que os trabalhos produzidos na academia acabam se
transformando em soluções de prateleira, ou seja, não chegam ao público que
poderia ser grandemente beneficiado. "Felizmente, temos percebido que,
mais recentemente, o governo federal vem demonstrando sensibilidade para com o
tema, com a publicação e revisões nas leis e decretos que tratam do assunto,
com mecanismos que buscam favorecer a transferência do conhecimento tecnológico
adquirido nas universidades para as empresas. Embora ainda estejamos muito
longe do que acontece com os países desenvolvidos, acreditamos que com o
interesse dos governos, das instituições (centros de pesquisa, universidades e
empresas) e, porque não, de toda a sociedade, estamos caminhando para uma nova
perspectiva", encerra Bidarra.
Fonte: Revista Reação


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