RJ: acessibilidade ainda é realidade distante
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Idosos e pessoas com deficiência enfrentam obstáculos;
calçadas são principal insatisfação, diz pesquisa
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Alcei, 77 anos fica perdido na parada de ônibus: faltam orientações e trilha para Bengala. Bruna Prato, metrô Rio. |
Vida de pedestre
não é fácil no município do Rio de Janeiro. Ainda mais para os idosos e os
deficientes visuais e físicos. Calçadas quebradas, falta de sinalização
adequada e muitas barreiras pelo caminho mostram que a acessibilidade está
longe de fazer parte do cotidiano dos carioca.
Em rápida volta
pelos bairros da Urca e de Copacabana, o Metro constatou vários casos de
falta de acessibilidade. Deficiente visual, Alcei Garcia, 77 anos, cita os
principais males: “Há muitos obstáculos, faltam calçadas lisas, orientações,
trilhas para bengala e corrimãos”. Ele, que mora em Irajá, zona norte, e
frequenta o Instituto Benjamin Constant, na Urca, zona sul, desabafa: “Minha
canela e cabeça já levaram muita pancada”.
Calçadas quebradas
e desniveladas também são reclamação em Copacabana, bairro onde, segundo o
Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos (IPP), 23% da população tem
mais de 65 anos. Com o joelho operado há quatro meses, Dilma da Silva, 75 anos,
encontra de tudo no trajeto até a fisioterapia. Para ela, que usa muleta, é
complicado desviar das obras, caçambas e crateras: “Aqui, o que mais tem é
quebra-quebra e buraco. Assim fica muito difícil”, reclama.
Segundo a
Secretaria Municipal de Conservação e Serviços Públicos (Seconserva), a
responsabilidade pela manutenção das calçadas é “dos proprietários dos imóveis”
e, desde junho de 2011, fez vistorias em 23 bairros. Das 7,5 mil
irregularidades constatadas no período, 71% foram resolvidas.
Ainda de acordo com
a Seconserva, as concessionárias de serviços públicos também são culpadas. E
afirma que, este ano, já foram emitidas a elas 1.363 notificações e 635 multas,
equivalentes ao valor total de R$ 364.626,18.
De acordo com a
Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, o Plano Estratégico da Cidade
(2013 - 2016) inclui a revitalização, em 4 anos, de 700 mil m2 de calçadas e 5
mil rampas do projeto “Rio Acessível”.
Segundo a
secretaria, estão previstas a revitalização dos pavimentos e meio-fios, a
remoção de obstáculos e a implantação de rampas e piso tátil, além de faixas
lisas para cadeirantes.
Calçada quebrada é
o pior problema
Rua quebrada é o
que mais deixa o carioca desacreditado em um Rio acessível a todos. Pesquisa
feita em julho deste ano, pelo movimento Rio Como Vamos (RCV) com a empresa M.
Sense, revela que 90% dos 1.741 cariocas entrevistados consideram a conservação
importante para a melhoria da qualidade de vida na cidade. E, se pudessem
realizar mudanças em suas ruas, 49% tapariam os buracos nas calçadas.
Outro levantamento,
realizado no ano passado pelo RCV e pelo Ibope, mostra que 19% dos 1.358
entrevistados se locomovem a pé pelas ruas da cidade.
Se a pé é
complicado, com cadeira de rodas em Copacabana o esforço é ainda maior, como
para Gitla Rosemberg, 81 anos, que, para se proteger, usa até cinto de
segurança. “Outro dia, a roda quebrou num buraco. Quase me machuco”. Ir para
lugares distantes requer paciência: “Não vou de ônibus, não teria como. Nem
sempre a máquina funciona. E, de táxi, também é difícil, porque nem todos
param”.
Próximo à casa de
Maria Luísa Leite, 90 anos, na rua Barata Ribeiro, o risco é aparente com
pedras portuguesas soltas. Ela diz que fica “exausta” ao caminhar por
Copacabana e opina: “Nada vai melhorar”.
O Metro ouviu os
principais candidatos à Prefeitura do Rio de Janeiro sobre como tornar a cidade
mais acessível para o deficiente físico. Veja o que eles disseram:
Eduardo Paes (PMDB) - “O primeiro passo é garantir
acessibilidade plena ao transporte público. Em 2009, a cidade tinha 310 ônibus
adaptados, menos de 5% da frota. Hoje, são 5.150 ônibus: 60% da frota. A meta é
100% até 2014. Com o Rio Acessível e Calçada Lisa, até 2016, vamos implantar 5
mil rampas e recuperar 700 mil m² de passeio público e particular.”
Otavio Leite (PSDB) - “Lamentavelmente, as políticas
públicas em prol das pessoas com deficiência estão quase paralisadas. Apenas 8%
das calçadas do Rio possuem rampas. Temos um dos piores índices entre as
capitais. Vamos implantar programa de acessibilidade de ruas e praças. Como
também mobilizar o empresariado nos espaços comerciais.”
Aspásia Camargo
(PV) - “A primeira
providência é melhorar as condições das calçadas, que são de responsabilidade
dos proprietários dos imóveis: 500 mil pessoas vivem com medo de sair às ruas
porque, tendo alguma deficiência, correm o risco de se acidentar. Temos que
instalar rampas de acesso nas esquinas e em prédios de grande circulação.”
Marcelo Freixo
(PSOL) - “No nosso governo,
as regiões administrativas vão deixar de ser cabides de emprego e voltar a ser
órgãos de coordenação de conservação urbana. Isso significa que a população
poderá cobrar do administrador que sejam priorizadas obras de adaptação de
calçadas, sinalização nas ruas e reposicionamento de pontos de ônibus.”
Rodrigo Maia (DEM) - “Vamos investir na adequação dos
espaços públicos à realidade das pessoas com deficiência. Todas as obras no meu
governo terão como uma das prioridades a acessibilidade. A prefeitura também
disponibilizará transporte, por meio de micro-ônibus e táxis adaptados, para
garantir o deslocamento dos que necessitarem o serviço.”
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